domingo, 15 de novembro de 2020

O que é "SUJEITO PLEONÁSTICO" ?


 O sujeito pleonástico ou sujeito  duplo é um assunto pouco abordado pelos gramáticos.

O pleonasmo consiste numa repetição, "para fim expressivo, de termo já enunciado em determinada função sintática."(Kury,1991). Ex.: Os medíocres, ESSES  deixam-se levar sem resistência na torrente das inovações. (Mário Barreto apud Othon M. Garcia (2006).

Esta repetição é utilizada por uma necessidade expressiva, ou seja, um reforço para enfatizar o termo repetido. A repetição do sujeito, como nos lembra M.P. Ribeiro (2011), pode surgir depois de verbos causativos e sensitivos. Além disso, Ribeiro (2011) diz que o termo que se tornará pleonástico, ficará no início da frase. E que consiste  na antecipação de um termo nominal da oração, que depois se relembra, no lugar próprio, com um pronome na mesma função sintática.(Kury,1991).

Vejamos o exemplo de Ribeiro (2011):
Ex.: O MENINO (sujeito)/que veio comigo/ mandei-/O (sujeito) voltar.
 
Kury (1991):
"'Mas AS COISAS FINDAS,
muito mais que lindas,
ESSAS ficarão'(C.Drummond )
O pronome ESSAS , equivalente de AS COISAS FINDAS, é sujeito pleonástico."
 
Carlos Góes (1931) apresenta os seguintes exemplos de reforço do sujeito:
A)  O sujeito é repetido, porque se lhe segue um, ou mais vocativos: 
Ex.: Tu só, TU, puro amor... (Camões)

B) O sujeito é repetido, porque é cortado de orações incidentes :
Ex.: TU, QUE DIRIGISTE MEUS PASSOS...Tu, A QUEM DEVO todas as minhas inspirações...

C) O sujeito é repetido por ênfase :
Ex.: Este, ESTE é o meu Deus (Garrett).

Ex.: E se a lei, ESSA lei nefanda, batesse à minha porta... (Ruy Barbosa)

D) O sujeito é repetido por um pronome :
Ex.: O peito, ESSE, ESSE mal contido amor transborda (Machado de Assis)

E) O sujeito é reforçado por um expletivo idiomático :
Ex.:Faltam ELLES homens (Teix.de Vasc.)

E Mestre Said Ali (1964,p.105) afirma que para representar pleonasticamente o sujeito usa-se ESSE/ISSO:
EX.: A sciencia, ESSA é invulneravel (C.Castelo Branco). 

Enfim, apesar de não recomendado na escrita culta, não há problema na escrita literária que visa registrar este fenômeno linguístico. 

Referências 

ALI, M.Said.Gramática secundária e Gramática histórica da língua portuguesa.  Brasília : UnB, 1964. 

GÓES, Carlos. Syntaxe de regência.3 ed. Petrópolis, L.Silva & Cia, 1931.

KURY,  Adriano da Gama. Novas lições de análise sintática . 5.ed. São Paulo : Ática, 1991. 

RIBEIRO, Manoel P. Gramática aplicada da língua portuguesa. 20.ed. Rio de Janeiro: Metáfora editora , 2011.

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